Chartres, de volta à Idade Média.
- marlavaz
- 3 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

Chartres, “Cidade da Luz e do Perfume”, na França, tem sua Catedral Notre-Dame de Chartre, tombada pela UNESCO, obra prima da arte gótica, cujo azul cobalto de seus vitraux, até hoje, não puderam ser reproduzidos. A catedral atual foi construída entre os anos de 1194 a 1250. As torres são desiguais, representando o sol e a lua. Foi construída para ser uma ponte de ligação entre o céu e a terra. Ali dentro, você tem a sensação de que voltou à Idade Média, pois lá estão os símbolos da alma cristã romana.
Os ingleses tentaram apoderar-se da cidade de Chartres, mas sem sucesso, e daí em diante foi atacada durante as guerras religiosas, depois pela Guerra Franco-Prussiana. E foi bombardeada pelos alemães durante a II Guerra, tendo seu patrimônio arquitetônico sofrido grandes danos, mas a Catedral foi preservada. Seus habitantes participaram da resistência francesa, tendo sido herói o prefeito Jean Moulin, e foi libertada pelos americanos em agosto de 1944.
Desde a Idade Média foi conhecida como a cidade das peregrinações cristãs, por causa da Sancta Camisia (Le voile de la Vierge), que acreditam ser a túnica que a Virgem Maria vestia ao dar a luz a Jesus. Diversos especialistas comprovaram que o tecido seria daquela época. Você vê e crer se quiser. Naquele momento, por que não? Eu me emocionei e acreditei.

Durante a Idade Média a Catedral atraia peregrinos pelo conforto espiritual e pelos milagres. Naquela época entravam pela cripta alguns metros abaixo do piso, onde estavam as paredes da primeira catedral, num processo de purificação para entrar na igreja. Passava-se pelo purgatório para atingir o céu.
O piso da Catedral tem o formato de um labirinto. Depois de chegar do purgatório ou da cripta, inicia-se outro processo de flagelação cristã percorrendo esse labirinto, por cerca de uma hora, ou mais se tiver muitos peregrinos, orando e pedindo perdão dos pecados. Tem 365 pedras brancas e 273 pedras pretas, formando círculos concêntricos do sistema planetário. O percurso é simbólico, físico e espiritual. Não é um ritual de santos. É do ser humano com suas idiossincrasias. Porém, nesse momento perde-se a noção de tempo e espaço, reencontrando-se com os pecados diários. Trata-se de um encontro consigo mesmo, pedindo perdão a Deus.

Até hoje, anualmente, a Associação Notre Dame, em Versailles, reúne famílias jovens de toda a França, em torno de 1.500 peregrinos, para chegar a Chartres, percorrendo 100 km, a pé, partindo da Catedral de Notre Dame, em Paris.
Fiquei emocionada com a túnica que seria de Maria, mãe de Jesus. Porém, desisti de peregrinar no labirinto, tão logo iniciei, porque me pareceu autoflagelação cristã. Não vejo sentido, no século XXI, em sofrer para atingir o Reino de Deus, tal qual na Idade Média. O meu Deus é um Deus de amor.
A catedral tem tantos detalhes de códigos históricos que, certamente, historiadores ainda terão muito material para decifrar outros aspectos da imaginação religiosa humana.
Agora passemos ao profano da cidade, com meus amigos Eulina e Hamilson. Lindas lojas, casas de arte e antiquários, restaurantes e comidas de comer rezando. Assim, reza-se em tempo integral nessa cidade. A Brasserie La Serpente é linda! Lá tomei um vinho inesquecível: Sancerre Vacheron, que custou 22 euros a garrafa. Entrada presunto com osso (jambon à l’os), 14,50 euros, e almoço foie gras com pão de ervas e folhas, 18,90 euros. E, para finalizar, assortiment de fromage, 8 euros.

Enfim, cumpri todos os rituais de minha alma francesa.

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