Louise, uma das Sete Mulheres de Chenonceau
- marlavaz
- 16 de mar. de 2016
- 3 min de leitura

Louise de Lorraine nasceu em 1553, filha do Duque de Valdémon, regente de Lorena. Sua infância foi infeliz, porque foi maltratada pela madrasta. Daí tornou-se obediente, submissa, o que era identificado naquela época como muito calma (me poupem!). Contudo ela, apesar de bonita, era solitária, então buscou refúgio na igreja tornando-se muito fervorosa e piedosa. Orava muito, vivia peregrinando nas igrejas. Todavia o que fez o Rei Henry III, filho de Catherine de Medici, sentir atração por ela não foi sua beleza, mas deveu-se ao fato de que ela se parecia muito com sua amante, a princesa Marie de Cléves, por quem ele era apaixonado.
A princípio a corte e, em especial, a mãe do rei Catherine de Medici, não achava Louise com status suficiente para ser rainha. Porém depois, de Medici, mulher forte e esperta, viu que essa moça humilde, submissa, seria muito fácil de ser manipulada.
Quando os emissários do rei chegaram a sua propriedade para pedir sua mão ao pai, ela não se encontrava. Estava fazendo mais uma de suas inúmeras peregrinações religiosas, daquela vez em Saint –Nicolas – de Port.
O casamento foi na Catedral de Reims (que visitei, na cidade de Reims, porque foi onde todos os reis franceses se batizaram). Depois Louise sofreu muito com as desavenças das famílias de seu pai e de seu marido.
Embora Louise adorasse o marido, não conseguiu ter filhos, seguindo-se uma vida de mais orações, promessas, sacrifícios. Isto a levou ao isolamento, a não participar politicamente do reino, mas nunca se furtou de aparecer em cerimônias oficiais obrigatórias. Uma curiosidade. Ela participou com o rei-marido e o Parlamento da cerimônia de colocação da primeira pedra para construção da Pont Neuf, em 1558 ,a mais antiga de Paris, (sempre atravesso essa ponte para ir a Rive Gauche do rio Sena).
Em 1589, seu marido foi assassinado (ele foi excomungado após o assassinato do cardeal de Guise, porque foi acusado como o mandante, o que não duvido numa época de embate entre o clero e o reinado, especialmente na França). Louise então herdou Chenonceau da rainha Catherine de Medici, onde viveu a situação de morbidez. Uma cliente para o psiquiatra Gustav Jung, considerando seus estudos sobre religiosidade, conforme aprendi com o terapeuta Amauri Munguba. Luto ostetado com cruz, pás e picaretas do enterro do marido(ninguém merece !), cornucópias derramando lágrimas. Esta decoração preto e prata foi reproduzida na cama, nas cortinas (creiam, é mais charmoso dizer em fraçais : Ce décor noir et argent était reproduit sur les tentures du lit et des fenêtres), pois Louise pirou e usou rooupas pretas, pintou as paredes do quarto de preto com as imagens dos aparelhos de autoflagelação crista na cor prata, além da cômoda com esses aparelhos para o autoflagelo diário. Imaginem que até a Idade Média a cor do luto das rainhas francesas era o branco, portanto parecia esquisito aquele “pretume”. Sociologicamente fica-se roxo de ciúmes, vermelho de vergonha e branco de medo. E ao surtar fica-se preto ?
Depois, a incansável fervorosa Louise tentou restaurar junto ao clero o nome de seu marido que fora excomungado, para ele descansar em paz no reino do céu. Ela acabou morrendo em Moulins, Allier, em 1601, enterrada na Igreja dos Capuchinhos. Em 1817, seus restos mortais foram transferidos para junto do marido, na Catedral de Saint Denis (fica no subúrbio norte de Paris, longe, mas fui lá ver onde esta perturbada mulher foi enterrada, por ser uma das 7 mulheres de Chenonceau).
Ela viveu por 11 anos no castelo de Chenonceau. Ao morrer deixou o castelo para sua sobrinha, a Duquesa de Vendôme, filha de Gabrielle d'Estrée, (ambas entre as 7 mulheres de Chenonceau). O castelo estava coberto de dívidas (que falta fazia a cabeça da empresária Catherine de Medici que planejou, naquela época, o castelo auto-sustentável com a vinícola), mas os bens de Louise foram vendidos para pagar as dívidas.
Concluindo, sustento meu pressuposto. Louise sofria da síndrome de autoflagelação cristã, como a peregrina que se auto castigava na carne, por ela e pelo marido morto, tomando para si a responsabilidade do sacrifício do sofrimento para ambos alcançarem o reino do céu. É muito peso para se carregar numa vida ! E conforme se diz no nordeste brasileiro – Deus não se serve disto.
Coitada, me solidarizo com a violência psicológica que ela sofreu na infância e na adolescência, prosseguindo com uma vida de submissão ao rei-marido e, depois, à viuvez. Entendo sua autoflagelação, cabeça moldável para o clero e os paradigmas religiosos daquela época. Todavia, ainda tem muita mulher assim no século XXI, mesmo que não vá tanto à igreja. São milênios de submissão das mulheres.
Quem escreveu este texto foi Marla Antoinette, lembrando que a adolescente Marie Antoinette sofreu violência psicológica ao ingressar na França. Porém, ela JAMAIS autoflagelou-se. Pegou o rumo contrário, ainda que exagerando em alguns aspectos (porém, deixemos isso para lá).
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