Chopin e sua Mão Direita
- marlavaz
- 20 de fev. de 2016
- 2 min de leitura

O povo polonês estava festejando, em 2010, os 200 anos de nascimento de Fryderyk Chopin, seu filho mais adorado, que aos 03 anos foi revelado gênio. Seu corpo sepultado em Paris, onde viveu por sua música não ser reconhecida na sua pátria, mas seu coração foi enviado de volta à Polônia
O gênio Chopin transformou o piano no rei dos instrumentos. Os outros instrumentos somente entram na sua obra para fazer o que o piano não consegue fazer. A pianista internacional, brasileira, baiana, Cristina Ortiz, define a música de Chopin como um primor de paixões, de fragilidade, tocando o mais profundo sofrimento. A mão esquerda de Chopin era orgânica, enquanto a mão direita era o solo ou a mão que cantava decodificando o transe que ele entrava quando criava e interpretava suas músicas (por isso uma pianista, Mela, disse que tem peças de Chopin que ela não pode tocar, porque tem dedos curtos). Não existe Chopin sem os dedos polegar e indicador. Observem isso quando um pianista interpreta suas músicas. Cristina afirma que os “Estudos”, de Chopin, como o Opus 25, não são estudos. São obras de gênio.

Já Nelson Freire (lastimo sua morte), disse que não imaginava sua vida sem Chopin. E sua paixão por Chopin foi consolidada quando ele ouviu a pianista brasileira Guiomar Novais interpretar sua obra, e quando viu um filme da vida do compositor, “A Noite Sonhamos”, na cena em que o gênio, interpretando sua obra, o sangue cai no teclado, diagnosticando sua doença. Nelson disse que só se pode tocar Chopin quem lhe declara amor incondicional. Os Noturnos são carregados de sedução, desapontamento, mistério e morte. O mais difícil de interpretar na música de Chopin, segundo Nelson, é fazer o piano cantar, como o compositor exige na sua vasta obra.
Alguns bancos de granito dos parques de Varsóvia, inclusive no Parque Lazienkowski, tem um botão. Você senta, aperta o botão e devaneia escutando as músicas doloridas e sem igual desse homem gênio.

Fomos a um elegante concerto de Chopin num Palácio, em Varsóvia. As águas do jarrdim jorrravam de uma fonte milenar com plasticidade, leveza, interpretando, quem sabe, a mão direita de Chopin cantando num solo de final de tarde.
O interprete de Chopin era um consagrado pianista, cuja foto decora este texto. Não desgrudei os olhos das mãos dele correndo no teclado. A mão direita cantava sim. Contudo, lembrei-me da interpretação da baiana Ortiz. O solo da mão direita dessa interprete era muito puro, como o de Nelson Freire. O da pianista Ortiz não é, porque ela admite que retira da obra de Chopin elementos de sons brasileiros. Creio que Chopin na sua sensibilidade aspirou o vento que percorria o mundo todo, e ele pode sentir os sons das culturas dos diversos países. Por isso, sua música é universal e atemporal.
A quem possa interessar, sugiro o Dvd: “Um filme sobre um homem e sua música, Nelson Freire”.
Lembrei-me, em Varsóvia, de mãe, Maria Amália Vaz, que considerava uma extravagância eu apreciar os sons tristes de Chopin. Ela preferia os sons estimulantes de Ludwig van Betowen.
Aprendi a não escutar a música clássica e erudita, mas absorver suas notas musicais com todos os meus sentidos. E Chopin me faz descobrir a plasticidade do sossego nos momentos de estresse desta vida.
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