Minha Paris e a Festa da Queda da Bastilha
- marlavaz
- 13 de fev. de 2016
- 4 min de leitura

Como a cada ano que vou a Paris, visito vários museus. Em 2009 voltei, diariamente, ao Louvre, além do Jardins des Tuileries. Lá, fiz minhas comprinhas de museus, como sempre e, é claro, meus DVDs sobre as cidades com seus castelos e museus da França.
Nos Champs Elysée, um oficial me abordou convidando para ver uma exposição da Unidade Diable Rouge e suas ações nas Duas Grandes Guerras. Uma maravilha! Hoje essa companhia faz trabalhos humanitários pelo mundo. Ao final, dois deles, franceses de meia-idade, me convidaram para comer finíssimos crepes, transparentes, que pareciam renda francesa, acompanhados de conhaque! Por isso afirmo: francês não é pernóstico ou arrogante. É sofisticado. E eu, lá, com os diables rouges....Quem vai ter medo desses diabos? Não eu.
Desta vez encontrei, na Av. Champs Elysée, a casa onde morou Santos Dumont. Tem uma placa, ele de perfil com seu chapéu antológico. Pura emoção! E está impresso em français que ele inventou o avião, ao contrário do que dizem os invejosos americanos.
Não usei nenhum meio de transporte desta vez, caminhava por toda Paris. O mapa de Paris estava na sola dos meus pés. Mandava torpedos para a família, pois era mais barato (nessa época ainda não havia Whatsapp). Do you know “estropiada”? My feets killer me!” Quando voltei a Salvador estava com bolhas d’água nos dedos dos pés! Porém, very happy! Desta vez explorei, bastante, alguns dos lugares que visitei muito rápido das outras vezes que estive em Paris: Rive Gauche e Marais.
Também fui a muitos museus que planejei. Na porta do Museu da Alta Costura (Rue Rivoli), fui surpreendida na calçada, ao caminhar para entrar na enorme fila, pelo ar quente que vem do subterrâneo. Resultado, a saia de meu vestido de seda volante (Le Lis Blanc) esvoaçava até minha cabeça, eu, segurando uma garrafa de água mineral por causa do intenso calor e a bolsa, tentava segurar a saia, quando um homem da fila gritou: Marilyn Monroe!!! Inicialmente fiquei com vergonha, depois pensei ninguém aqui me conhece. Aí desisti de segurar a saia e caminhei até o fim da fila, todo mundo rindo. Situações que somente experimentam cidadãs do mundo.
Caminhava na minha Paris passando por todas as minhas pontes, passando as mãos nas suas pedras, nas pedras da Bastilha que passaram a integrar às pontes, fotografando minha Paris. Para tirar fotos minhas nos locais eu pedia a quem passava, ou seja, gente do mundo todo! Todos se mostravam delicados em atender meu pedido. Contudo, ao pedir, qual a nacionalidade que eu selecionava primeiro? Tchan-tchan-tchan! Japoneses! Porque carregam máquinas de profissionais e adoram fazer fotos de tudo (dizem as más línguas que só revelam poucas fotos, o negócio deles é clicar na máquina). Sempre, sempre iguais, os olhinhos puxados, a mesma cena. Empunhavam a máquina e avisavam: four, three, two, one and...ZERO!!! Eu já começava a ri desde que os via, mas me acabava de rir desde que começavam: four... Por isso minhas fotos são todas rindo. Rindo de japonês.
Comprei um farnel: pão, queijos, chouriça e uma pequena garrafa de vinho. Fiz um piquenique nos Jardins du Tuileries, sentada na grama como todos franceses. Um passarinho bicou meu pão, por um bom tempo. Não fiz fotos para não assustá-los. Lá estava eu, conferindo meus domínios de outras épocas ou de outras vidas. No dia da festa da queda da Bastilha fui às 6 h da manhã e postei-me em frente ao palanque oficial. Tudo muito organizado, um mar de gente, mas ninguém empurrava ninguém. Foi lindíssimo! Fiz fotos da lindíssima italiana Carla Bruni e de Sarcozy. Estava na segunda fila do local em que ele estendeu a mão para cumprimentar a população, mas não estirei a mão, porque não tieto poderosos. Todavia ele é um charme, olha fixo como se a pessoa fosse a única no mundo.
Ela, a lindíssima Carla, com um vestido de “domingo ensolarado”, um Chanel branco de arrasar! Bolsa e sapatos de verniz preto, bem a La Dior (Deus nos livre de Luis Vitton). Recebeu algumas cartas da população, em lugar de entregar a assessores ou aos seguranças, colocava dentro da bolsa. Muito dócil e simples. E elegante.
Sabemos que a Inglaterra é dona do mar, mas a França é dona do céu. O show dos aviões caças franceses foi emocionante! E os oficiais, Mon Dieu ! Lindíssimos franceses, desfilando. Fotografei lindos oficiais!
O mais emocionante foi quando a esquadrilha da fumaça, aberta num leque de nove aviões perfilados, cobriu Paris com as cores da bandeira francesa. Chorei! E pensei naquela hora, por que o Brasil não compra os aviões caças franceses, preferindo os da Suécia? Há que, no mínimo, se desconfiar.
À noite, foi deslumbrante. A queima de fogos na minha Tour Eiffel! Um mar de gente desde o Trocadero até o Champs de Mars. A segurança fechou tudo, por causa dos Presidentes de vários países e autoridades. Só pude entrar na Rua do Hotel mostrando à segurança militar meu cartão do quarto do Hotel Mercure.
Meu hotel abriu os salões do último andar para os hóspedes assistirem esse espetáculo, pois o Mercure Hotel fica juntinho da Tour Eiffel. Deitada na minha cama, a cada ano, dá para assistir ao espetáculo de jogos de luz da Tour.
Hóspedes do hotel levaram para esse último andar: champanhe, pastas, queijos, uma festa! Comecei filmando, depois parei, somente para sentir emoções! Chorei, gritando “Vive La République!” (bradava meu lado não Antoinette).
Essa festa é o marco da humanidade. Embora minha porção Marie Antoinette reclame, a outra parte vibra com o paradigma da República: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Na França sou sempre duas. Nada posso fazer. Vivo essas minhas duas identidades paradoxalmente integradas.
É claro que fui novamente ver Napoleão, na sua tumba. Napoleão foi quem consolidou a República, somente depois é que resolveu ser rei, mas prefiro não comentar. Os franceses devem a ele a República, sim. Peço silêncio sobre o assunto, amo Napoleão.
Ainda sou só emoção. E morrendo de saudades da França de Marla Antoinette.
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